segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Eleições 2010 e o porquê do meu voto em Dilma Roussef

Não costumo falar muito sobre política, nem aqui no E a Lagartixa, nem em lugar nenhum. Mas, como esse ano eu realmente quero que o candidato José Serra não ganhe as eleições, vou expor aqui os motivos que me levaram a decidir meu voto pela candidata Dilma Roussef. Assim quem sabe eu convenço mais alguém que esteja em dúvida a votar nela.
Eu comecei a cursar a faculdade de Física em 2003. Desde então, passaram-se os 4 anos de graduação, 2 de mestrado e agora estou na metade do meu doutorado. Isso foi tempo mais que suficiente para eu ter certeza de que desejo trabalhar com pesquisa, no meio acadêmico. No Brasil, isso se faz majoritariamente em universidades públicas, sejam elas estaduais ou federais. Nesses oito anos dentro de uma universidade estadual, sempre ouvi reclamações dos professores em relação a escassez de concuros públicos para contratação de pesquisadores, sobre a estagnação científica brasileira e sobre o sucateamento das universidades públicas em governos anteriores ao do presidente Lula.
Nos oito anos de mandato do atual presidente, esse quadro começou a mudar de forma bastante acentuada, com o surgimento de uma quantidade bastante razoável de vagas em centros de pesquisa universitários e com o bom investimento nas instituições de ensino superior existentes e a criação de novas universidades. Parece que finalmente algum governo entendeu que só se desenvolve efetivamente um país com investimento pesado em ciência de base e tecnologia. Não que esse governo esteja fazendo algo demais. Muito pelo contrário, ele não faz mais do que a obrigação, porém isso é algo que nenhum outro governo recente fez e, ao julgar pelo histórico de governos da direita, nunca seria feito. Não é por acaso que foi redigido o "manifesto dos 5000":
Nós, cinco mil professores universitários das principais universidades do país, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.
Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais.
Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. Desde 2005, São Paulo perde sistematicamente colocações no ranking do Ideb, que avalia o ensino médio. Neste ciclo, onde se sente mais claramente as deficiências dos anos anteriores de aprendizado, São Paulo passou de quarto para sexto colocado.
Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública. Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.
Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.
No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina a difamação, manipulando dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.
E também não é por acaso que foi redigido o "manifesto dos reitores":
O Brasil no rumo certo (Manifesto de Reitores das Universidades Federais à Nação Brasileira)
Da pré-escola ao pós-doutoramento – ciclo completo educacional e acadêmico de formação das pessoas na busca pelo crescimento pessoal e profissional – consideramos que o Brasil encontrou o rumo nos últimos anos, graças a políticas, aumento orçamentário, ações e programas implementados pelo Governo Lula com a participação decisiva e direta de seus ministros, os quais reconhecemos, destacando o nome do Ministro Fernando Haddad.
Aliás, de forma mais ampla, assistimos a um crescimento muito significativo do País em vários domínios: ocorreu a redução marcante da miséria e da pobreza; promoveu-se a inclusão social de milhões de brasileiros, com a geração de empregos e renda; cresceu a autoestima da população, a confiança e a credibilidade internacional, num claro reconhecimento de que este é um País sério, solidário, de paz e de povo trabalhador. Caminhamos a passos largos para alcançar patamares mais elevados no cenário global, como uma Nação livre e soberana que não se submete aos ditames e aos interesses de países ou organizações estrangeiras.
Este período do Governo Lula ficará registrado na história como aquele em que mais se investiu em educação pública: foram criadas e consolidadas 14 novas universidades federais; institui-se a Universidade Aberta do Brasil; foram construídos mais de 100 campi universitários pelo interior do País; e ocorreu a criação e a ampliação, sem precedentes históricos, de Escolas Técnicas e Institutos Federais. Através do PROUNI, possibilitou-se o acesso ao ensino superior a mais de 700.000 jovens. Com a implantação do REUNI, estamos recuperando nossas Universidades Federais, de norte a sul e de leste a oeste. No geral, estamos dobrando de tamanho nossas Instituições e criando milhares de novos cursos, com investimentos crescentes em infraestrutura e contratação, por concurso público, de profissionais qualificados.
Essas políticas devem continuar para consolidar os programas atuais e, inclusive, serem ampliadas no plano Federal, exigindo-se que os Estados e Municípios também cumpram com as suas responsabilidades sociais e constitucionais, colocando a educação como uma prioridade central de seus governos.
Por tudo isso e na dimensão de nossas responsabilidades enquanto educadores, dirigentes universitários e cidadãos que desejam ver o País continuar avançando sem retrocessos, dirigimo-nos à sociedade brasileira para afirmar, com convicção, que estamos no rumo certo e que devemos continuar lutando e exigindo dos próximos governantes a continuidade das políticas e investimentos na educação em todos os níveis, assim como na ciência, na tecnologia e na inovação, de que o Brasil tanto precisa para se inserir, de uma forma ainda mais decisiva, neste mundo contemporâneo em constantes transformações.
Finalizamos este manifesto prestando o nosso reconhecimento e a nossa gratidão ao Presidente Lula por tudo que fez pelo País, em especial, no que se refere às políticas para educação, ciência e tecnologia. Ele também foi incansável em afirmar, sempre, que recurso aplicado em educação não é gasto, mas sim investimento no futuro do País. Foi exemplo, ainda, ao receber em reunião anual, durante os seus 8 anos de mandato, os Reitores das Universidades Federais para debater políticas e ações para o setor, encaminhando soluções concretas, inclusive, relativas à Autonomia Universitária.
Uma matéria especial muito interessante chamada "New Brazil" foi escrita pelo Financial Times, analisando os avanços e também problemas remanescentes desses 8 anos de governo Lula: http://www.ft.com/newbrazil
A famosa revista Nature também atentou para os avanços da ciência brasileira na matéria entitulada "High Hopes for Brazilian Science": http://www.nature.com/news/2010/100609/full/465674a.html.
Outra matéria interessante publicada pela Nature foi a de título "Science safe in Brazil elections", onde aparece o sugestivo gráfico mostrando o investimento em ciência e tecnologia no Brasil ao longo dos anos:

                  
Por fim, ainda na Nature, temos uma entrevista com o ministro da ciência e tecnologia Sérgio Machado Rezende, que por sinal é Físico: http://dl.dropbox.com/u/1471430/Nature%20Materials-Science%20in%20Brazil-09-06-2010.pdf


Quanto ao candidato José Serra, nem preciso comentar. A última cartada dele foi a gota d'água pra mim. Fingir que foi atingido por algo consideravelmente pesado, comprar médico, perito e imprensa nessa e provavelmente em outras situações é algo ridículo e extremamente baixo. Vejam os links abaixo para melhor esclarecimento:
Matéria investigativa da UFSM sobre o tal objeto que teria atingido José Serra: http://decom.cesnors.ufsm.br/jornalismo/2010/10/23/e-serra-na-fita/
Matéria da Carta Capital sobre o mesmo assunto: http://www.cartacapital.com.br/politica/o-livro-e-a-bolinha-de-papel
SBT reafirma que a única agressão foi a bolinha de papel: http://www.cartacapital.com.br/politica/sbt-reafirma-que-unica-agressao-foi-a-bolinha-de-papel
Lula compara Serra a Rojas: http://www.cartacapital.com.br/politica/lula-compara-serra-a-rojas
Claro que a candidata Dilma está longe de ser perfeita, obviamamente. Voltar atrás quanto a questão do aborto e a repentina religiosidade que nela despertou no segundo turno é algo que considero manobra para angariar votos. Mas dos males, eu escolho o menor que, sem dúvida para mim, é a Dilma Roussef.

Até a próxima!

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