quarta-feira, 9 de junho de 2010

Ciência ao alcance de todos (com internet...)

Por mais que pareça elitista e distante da realidade, a pesquisa científica está a disposição de qualquer um que esteja disposto a se debruçar sobre o assunto com a internet. De fato, o próprio sistema de troca de pacotes entre computadores, denominada www, que permite no momento você ler esta informação foi criada pelo físico Tim Berners-Lee, do CERN (Organização Européia para a Investigação Nuclear), localizado na Suíça. Portanto vemos que uma das características primeiras da ciência, a ausência de apelo à autoridade, refletida no alcance das teorias científicas aos que estivessem dispostos a entendê-las, conseguiu plantar sementes importantes nos dias de hoje plantou uma semente importante nos dias de hoje, fazendo com que o conhecimento de algo não fique dependente de algo ou alguém, mas possa ser alcançado por aqueles que estiverem dispostos.
Por outro lado, o conceito de pesquisa científica nos dias de hoje tem sido um pouco deturpado. O aumento de conhecimento da humanidade como espécie, não foi acompanhado por um maior domínio das mesmas como indivíduos. Alguns pontos são relevantes sobre esse quesito. Primeiro, nas primeiras sociedades ocidentais que temos relatos sobre a pesquisa científica o próprio conhecimento era segregado a uns poucos indivíduos, que faziam parte de um círculo pequeno de estudo, academias ou instruções diretas. O restante da população não tinha contato direto com essas primeiras análises sitemáticas dos sitemas naturais. Segundo, a alienação religiosa que dominou grande parte da história humana impediu que o conhecimento adquirido ao longo dos séculos chegasse a todas as pessoas, a imputação da substituição do livre-pensar como método de análise dos fenômenos naturais é substituída por uma subserviência a uma força suprema não-inteligível, o que implica, por definição, em uma diminuição da capacidade de raciocinar sobre os eventos que nos cercam. E em terceiro lugar, a enorme quantidade de infomações que sobreviveram com o passar do tempo não foi fornecida de modo apropriado para as pessoas, passando desde problemas econômicos de má remuneração entre professores, até uma discrepância de peso entre ciência e arte (como apresentado a dois posts atrás). Por tudo isso acredito que temos (ainda) um abismo grande entre ciência de pesquisa e conceitos ouvidos e imaginados como corretos.
Obviamente não acredito que um post, ou dois links podem mudar um cenário deste. Em minha opinião apenas uma educação com qualidade pode nos fazer mais próximos de ciência e de nós mesmos. O seguimento dos links é para, em primeira instância, as próprias pessoas que estudam nas respectivas áreas e pretendem adentrar ainda mais nos estudos em questão.
De qualquer modo sigo abaixo com dois sites, extremamente interessantes e que estão ao acesso de todos. Ambos são receptáculos de artigos científicos (vide comentário 2) dos mais diversos conteúdos e de livre acesso. São eles:

ARXIV

Living Reviews in Relativity

Vale lembrar que artigos científicos não são livros de divulgação. São o ponto final de um estudo profundo, que demora tempo, dedicação e dinheiro. O intuito não é estar escrito para quem não tem familiaridade com o assunto. Além disso todos são em inglês, com o intuito de generalizar o acesso - é, eu também gostaria que a língua universal da ciência fosse o português, mas não o é... . Por fim, espero que os estudantes das áreas afins possam conhecer ainda mais suas áreas, caso ainda não o conheçam.

3 comentários:

  1. "Segundo, a alienação religiosa que dominou grande parte da história humana impediu que o conhecimento adquirido ao longo dos séculos chegasse a todas as pessoas"

    Acho que as próprias pessoas impediram que o conhecimento adquirido ao longo dos séculos chegasse a elas. Elas escolheram o caminho da alienação religiosa (por ser mais fácil, mais confortável?), não a alienação religiosa escolheu elas... A alienação religiosa ou a própria religião em si poderia existir sem a presença de adeptos. É o que chamamos de mitologia...

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  2. Quanto ao arXiv, devemos tomar muito cuidado. Lá não é um lugar de artigos propriamente ditos. Digo isso no sentido de que, no meio acadêmico, a palavra "artigo" é mais comumente utilizada no sentido de "trabalho que passou pelo processo de revisão por pares". ArXiv é lugar de pre-prints, ou seja, trabalhos que ainda não foram publicados. Claro, alguns autores quando têm seus trabalhos publicados atualizam o status dos seus respectivos pre-prints no arXiv. Alguns autores até poem seus artigos no arXiv quando a revista na qual ele foi publicado dá a ele esse direito. Outros autores tomam pau dos referees e largam o "artigo" no arXiv...

    A idéia do arXiv é ser um local de rápida difusão de novas idéias, já que o processo de revisão por pares demora uns 4 meses em média, contando desde a submissão do trabalho até as correções indicadas pelos referees e a consequente publicação do paper. Alguns autores até utilizam o arXiv como ferramenta de datação e garantia de autoria. Tipo, como o processo de publicação é demorado, é interessante que eu divulgue minha nova idéia no meio científico o quanto antes! Ou também, imagine que você apresente alguma nova idéia num seminário numa conferência dessas da vida. Se alguém pegá-la e transformá-la em um artigo, você tem grandes chances de dançar... Por isso encontramos no arXiv váááŕios textos que são originados de talks em congressos...

    Encontramos no arXiv também diversas revisões de assuntos novos, notas de aula etc etc.

    Você pode achar muitas coisas boas no arXiv, mas também pode achar muito, mas muito lixo (qualquer põe um "artigo" lá... A existência de trabalhos ruins já não é raro de acontecer em revistas com árbitros, que dirá num site onde não há avaliação dos trabalhos... Não recomendo o arXiv para qualquer um. Acho que lidar com o arXiv requer um pouco de maturidade, requer ter uma noção de quem são os caras que costumam publicar coisas relevantes na sua área, requer tato... Criar esses filtros exige um pouco de tempo.

    Para um iniciante, recomendo o uso de um bom leitor de rss (como o google reader) e a assinatura dos feeds dos principais journals da sua área, tipo PRD, PRE, PRL etc etc etc... A qualidade é bem superior.

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  3. "Portanto vemos que uma das características primeiras da ciência, a ausência de apelo à autoridade, refletida no alcance das teorias científicas aos que estivessem dispostos a entendê-las, conseguiu plantar sementes importantes nos dias de hoje."

    Não entendi o que vc quis dizer com "apelo à autoridade"...
    Plagiando a wikipedia,

    "O argumento de autoridade, também conhecido como argumentum ad verecundiam ou argumentum magister dixit, é uma falácia lógica. Sua forma básica é a seguinte:
    1. O autor A afirma a proposição B.
    2. Há algo de positivo em relação ao autor A.
    3. Portanto, a proposição B é verdadeira.
    Este raciocínio é absurdo, pois a conclusão baseia-se exclusivamente na credibilidade do autor da proposição e não nas razões que ele tenha apresentado para sustentá-la."

    Não entendi onde essa definição se encaixa no processo de criação da web... Se for em relação a não lembrarmos mais de quem a criou, não concordo. Reconhecimento de autoria não é apelo à autoridade, posto que não é uma falácia lógica. Pelo contrário, reconhecimento de autoria é fundamental na sociedade meritocrática na qual estamos inseridos...

    Enfim, não entendi direito.. huahaha

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