terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Big Brother



Imagine-se num mundo em que você fosse obrigado a disponibilizar para alguma forma de poder, para algum sistema, todas as suas informações: onde você vai, onde você acabou de chegar, o que você está pensando, quais são seus interesses, o que você gosta de ler, de comer, de ouvir, de quem você gosta etc etc etc... Inadmissível, não? Motivo de uma insurreição popular para deter esse poder totalitário, certo?



 Esse é um tema bastante recorrente na literatura distópica, como 1984, Fahrenheit 452 dentre outros...

Mas peraí... Orkut, Facebook, Twitter, Google, Google Profile, Buzz, Digg, Nuvem, Last.fm, ResearchGate e Mendeley para cientistas, Foursquare... Foursquare!!! etc etc etc  Hummm...

Uma das discrepância em relação às ficções distópicas é que o dito sistema não se apresenta na forma da mão forte de um estado opressor que, para se manter e se justificar, se faz presente de forma truculenta e violenta, mas sim através de um multifacetado "império" das mega corporações. É... o famoso "Big Brother" dos livros se tornou uma criatura fragmentada, sem rosto, um fenômeno emergente do nosso zeitgeist. Pode-se dizer ainda que o Big Brother evoluiu: agora ele é desprovido de qualquer ar ranzinza do socialismo, possui uma aparência jovial e o frescor do capitalismo. A "missão" dele é também se garantir e se justificar, mas com um objetivo levemente diferente: produzir mais e mais consumidores, lucrar mais e mais. E, para isso, toda vigilância e informações obtidas dos seus atuais e possíveis futuros clientes é fundamental, é o alicerce desse processo.

A grande ironia da coisa é q o "sistema" nao precisou se impor. De uma forma ou de outra, esse Big Brother emergente "percebeu" que a opressão explícita gera insatisfação e oposição feroz. O sistema se fez "cool" e as pessoas, como que seguindo aquelas luzes azuis que atraem moscas nos açougues (que por sinal estão praticamente extintos), foram e vão espontaneamente e felizes até ele! Tudo baseado num falso sentimento de livre arbítrio... Genial! Você é completamente "livre", inclusive para deixar de ser "livre"... Nenhuma previsão da ficção, nenhum autor distópico, se saiu tão bem quanto a realidade! As pessoas fornecemos informações que valem ouro em troca de não - consciente ou inconscientemente - se sentirem excluídas do mundo contemporâneo. Mesmo sabendo disso, continuaremos a usar todos esses serviços, cada vez mais. Eu mesmo estou ansioso por um celular com Android para facilitar o acesso à grande rede!

Claro que podemos vislumbrar diversas vantagens nesse grande teia de informação. Mas lembrem-se: There's no such thing as a free lunch!!!





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